Limite à imigração na Suíça pode gerar perdas econômicas no país e na UE

(DPA)
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Fechando a porteira – Os 28 países da União Europeia (UE) compõem, juntos, o maior mercado comum do mundo. Cerca de um quarto da economia mundial é produzido pelo bloco europeu. E, apesar de não fazer parte da UE, a Suíça lucra bastante com diversos acordos que facilitam o comércio com países do continente.

A UE é de longe o mais importante parceiro comercial dos suíços. Cerca de três quartos de todas as importações da Suíça vêm de países europeus – que consomem mais da metade das exportações suíças. A balança do comércio bilateral, somando as importações e exportações entre os dois parceiros, chegou a € 210 bilhões em 2012, segundo autoridades alfandegárias do país alpino. E, entre os europeus, os alemães são os parceiros comerciais mais importantes da Suíça, com transações comerciais no valor de € 79 bilhões.

Pequena, mas representativa

Do ponto de vista da UE, a Suíça não pode ser ignorada. Depois dos Estados Unidos, o país ao sudoeste da Alemanha é o segundo maior comprador de produtos do bloco europeu. De acordo com o departamento de estatísticas europeu Eurostat, 9% das exportações têm a Suíça como destino, mais do que o volume que segue para a China (8,8%), Rússia (7%), Turquia (4,7%) ou Japão (3,2%).

Já com relação às importações, o papel da Suíça é bem menos representativo para seus vizinhos. Com 5,3%, o país ocupa apenas o quinto lugar entre os que mais vendem para a UE, atrás da China, Rússia, Estados Unidos e Noruega, segundo os dados mais atuais do Eurostat, de 2011.

Enquanto em relação com outros países o bloco europeu mais importa do que exporta, a situação das relações comerciais com os suíços é contrária. A balança comercial (diferença entre importação e exportação) da UE com a Suíça registrou superávit de € 17 bilhões em 2012. Bens de consumo são os mais comprados pelos suíços.

Sem contar com uma indústria automobilística própria, a república alpina chegou a importar 380 mil carros em 2012, numa conta que chega a € 8 bilhões. A aquisição de bens de produção, como equipamentos e instalações de indústrias, é bastante significativa na Suíça.

Essa é uma importante vantagem para empresas alemãs da área automobilística e de montagem de maquinário. “Por ano, a Alemanha vende cerca de € 10 bilhões a mais em produtos do que compra da Suíça”, avalia o economista suíço Thomas Straubhaar, diretor do Instituto de Economia Mundial (HWWI, sigla em alemão), em Hamburgo.

Consequências invisíveis

Entre os bens mais exportados pelos suíços estão produtos da indústria química e farmacêutica, relógios, ferramentas de precisão e produtos de luxo, como chocolates. O setor bancário suíço tem relevância mundial por conta de seus reconhecidamente vantajosos serviços financeiros.

Além da intensa migração, também é significativo o número de trabalhadores pendulares – ou seja, que atravessam a fronteira Alemanha-Suíça frequentemente. “A Suíça oferece os empregos, a Alemanha a força de trabalho”, explica Straubhaar. “Juntos, eles produzem bens que depois serão fornecidos ao mercado automobilístico alemão, à construção de máquinas ou à indústria de transformação de metais, onde serão refinados.”

Agora, diante dos resultados da votação popular do último domingo, o governo em Berna se vê obrigado a determinar, em no máximo três anos, cotas de imigração no país. A medida atingirá, inclusive, cidadãos europeus. Para a UE, o “princípio do livre fluxo de pessoas” será ferido. Em 1999, suíços e europeus fecharam diversos acordos que, além do fluxo de pessoas, também regulam outras áreas como transporte, agricultura, pesquisas e concorrências públicas.

Tais acordos estão legalmente interligados e não podem ser desfeitos individualmente, segundo comunicou a Comissão Europeia por meio de nota. Agora, o órgão deverá “analisar as consequências dessa iniciativa para as relações conjuntas”.

Tudo ou nada

Para Straubhaar, a UE deveria se recusar a renegociar apenas o acordo de livre circulação. “A Comissão Europeia está sob forte pressão. Se ela permitir exceções e casos especiais a terceiros, como a Suíça, outros países fora do bloco também vão querer ter acesso ao privilégio. A UE não vai querer abrir esta brecha”, afirma o diretor da HWWI.

Ainda assim, acredita ele, caso os acordos voltem a ser negociados, a Suíça poderá perder muitas das vantagens que mantinha até agora com a UE. “Essa é uma guilhotina pendurada sobre a cabeça de todos”, diz Straubhaar. “Quando tudo for colocado em prática, será difícil para a Suíça, como um país pequeno, garantir seu atual status quo diante da gigante União Europeia.”

Segundo Straubhaar, o governo suíço perdeu margem de manobra depois do referendo. “Agora, o governo precisa se mostrar ativo. E é exatamente isso que a Comissão Europeia não deve querer – ou poder permitir.” (Deutsche Welle)