Requião embolsou R$ 453 mil do erário, mas apresenta-se como candidato contra o capitalismo

(Luiz Alves - Agência Senado)
(Luiz Alves – Agência Senado)
Óleo de peroba – A mãe de Karl Marx, Henriette, saturada de pagar as dívidas do filósofo, cortou relações afetivas e financeiras, não sem antes advertir o filho: “Você devia juntar algum capital em vez de só escrever sobre ele”. O senador Roberto Requião de Mello e Silva, candidato do PMDB ao governo do Paraná, que se diz marxista-gramsciano e discípulo de Hugo Chávez, não comete esse tipo de negligência. Requião condena o capitalismo, amaldiçoa o lucro e louva a Carta de Puebla (que prega a opção preferencial pelos pobres), mas não descuida, em momento algum, do acúmulo de capital.

No último dia 29 de agosto, quase meio milhão de reais caiu na conta de Requião. Foram R$ 453 mil, ou o equivalente ao que ganham 625 aposentados brasileiros remunerados pelo salário mínimo de R$ 724,00 (valor da maioria das pensões pagas pelo INSS no País). A bolada recebida por Requião representa apenas dezesseis meses de sua aposentadoria de ex-governador.

O benefício fora suspenso em julho de 2011, porque a Procuradoria Geral do Estado entendeu a pensão como sendo ilegal e, portanto, não devendo ser paga a ex-governadores eleitos depois de 1988 (Requião se elegeu pela primeira vez em 1990). O senador foi à Justiça e conseguiu de volta a pensão de R$ 26.589,68 mensais. Também no último dia 29, o governo do Paraná teve seu recurso final negado e foi obrigado a depositar, em dinheiro, sob pena de multa, R$ 452.667,63 na conta de Requião.

A aposentadoria milionária é um tema que constrange Requião. Ela empana o brilho de seu discurso de identificação visceral com os pobres, ao mesmo tempo em que guarda um elemento histórico perturbador. Em 1990, Requião destruiu seu principal adversário na disputa pelo governo do Paraná acusando-o de ser um “marajá aposentado”, justamente porque o mesmo recebia pensão de ex-governador. Em perfídia típica, Roberto Requião acusava o antagonista de desejar se reeleger apenas para acumular a aposentadoria de ex-governador com o salário de governador. Requião sabe que a mesmíssima acusação pode ser feita contra ele este ano.

Ao contrário de outros políticos da ativa que recebem a aposentadoria no Paraná e destinam os recursos a obras sociais, Requião admite entesourar os recursos. Alega que precisa do dinheiro para pagar as reparações judiciais a que é regularmente condenado. Pelo seu raciocínio, por algum motivo que ninguém consegue compreender, o paranaense deve ser obrigado a pagar a conta pela sua conhecida incontinência verbal. Requião tem compulsão por distribuir epítetos de “corrupto” e “ladrão” a todos que o desagradam. Por isso é obrigado a pagar indenizações aos ofendidos.

A alegação de que precisa ter uma aposentadoria para pagar essas indenizações representa, na prática, transferir ao contribuinte o ônus de sua verborragia insana, por que não dizer que se trata de uma espécie de estatização do insulto.

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