Lava-Jato: migração de Alberto Youssef para prisão domiciliar mostra que no Brasil o crime compensa

alberto_youssef_1001

Operador financeiro do finado José Janene durante anos e responsável por viabilizar o pagamento de boa parte das propinas do Petrolão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o doleiro Alberto Youssef permaneceu dois anos e oito meses preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, no vácuo da Operação Lava-Jato, mas nesta quinta-feira (17) deixou a capital paranaense rumo a São Paulo, onde cumprirá prisão domiciliar até março do próximo ano.

Youssef ficará em apartamento de 36 metros quadrados no elegante e caro bairro paulistano de Vila Nova Conceição, na Zona Sul da cidade, mas a progressão de regime é no mínimo um misto de escárnio com deboche. Isso porque a decisão mostra à sociedade que o crime compensa, por mais que trinta e dois meses atrás das grades está longe de ser uma empreitada das mais suaves.

O doleiro descumpriu acordo de delação premiada firmado no âmbito do escândalo do Banestado, caso em que foi protagonista da remessa de dezenas de milhões de dólares ao exterior por meio das chamadas contas CC5 (de não residentes no País). À época, Alberto Youssef assumiu o compromisso de não mais operar no mercado financeiro e de câmbio, mas ficou apenas na promessa. Dias depois de retomar a liberdade, o doleiro já estava em São Paulo operando no mercado de dólar com sua conhecida desenvoltura.

E não foi preciso muito tempo para que Youssef voltasse ao submundo do mercado de câmbio. Bastou um pedido do compadre Janene, falecido em outubro de 2010, para que o doleiro passasse a agir na seara da ilegalidade.


Em qualquer país minimamente sério, com um Judiciário coerente, Alberto Youssef passaria longos anos preso – pelo menos uma década, antes de retomar a liberdade. Pelo fato de saber que no âmbito da Lava-Jato agia ilegalmente e estava cometendo um crime ao violar o acordo de colaboração premiada, Youssef não merecia uma segunda chance. Sem contar que o doleiro foi uma das principais engrenagens para que o esquema de corrupção idealizado por José Janene funcionasse bem na Petrobras, como aconteceu durante dez anos.

Considerando que o primeiro delator da Lava-Jato não contou tudo o que sabe, assim como não revelou às autoridades todos os bens e ativos que possui, seu retorno às operações financeiras canhestras é uma questão de tempo, mesmo que através de algum preposto.

Não se pode esquecer que, apesar de todo o avanço das investigações no escopo da Lava-Jato, a força-tarefa ainda não descobriu o paradeiro do dinheiro de José Janene, algo que a própria família do ex-deputado federal do PP também desconhece. Youssef não apenas assumiu o posto de Janene no staff do Petrolão, mas desde então guarda um segredo que muitos gostariam de saber: o “endereço” do dinheiro da corrupção arrecadado pelo outrora “Xeique do Mensalão”.

Certa feita, em conversa telefônica com um dos procuradores que participam das investigações da Operação Lava-Jato, o editor do UCHO.INFO ouviu que não era preciso se preocupar com Alberto Youssef, pois o doleiro não voltaria ao convívio social antes de “passar cem anos na prisão”. Com Youssef a um passo da liberdade, resta concluir que alguém mudou a fórmula de cálculo do tempo ou o procurador não sabia o que estava falando.

apoio_04