Horas depois do quase “mea culpa” durante ataques ao governador de São Paulo, João Dória Júnior (PSDB), em discurso populista na Ceagesp, na zona oeste da capital paulista, o presidente Jair Bolsonaro assumiu, sem querer, que praticou corrupção. Esse “tropeço” político aconteceu em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da Band.
Sem ser questionado sobre os R$ 89 mil depositados na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente admitiu que Fabrício Queiroz, o operador das “rachadinhas”, pagava suas contas.
“Como falei desde o começo, aqueles cheques em torno de 10 anos foram para mim, não foram para ela. Divide aí R$ 89 mil por dez anos, dá em torno de R$ 750 por mês. Isso é propina? Pelo amor de Deus. O Queiroz também pagava contas minhas. Era de confiança”, disse Bolsonaro, que talvez acredite ser crime menor quem mata com um canivete, não com uma cimitarra.
Em agosto passado, durante rápida visita ao entorno da Catedral de Brasília, Bolsonaro, ao ser perguntado sobre os depósitos na conta da primeira-dama, reagiu enfurecido e disse a um jornalista de “O Globo”: “Minha vontade é encher tua a boca na porrada, tá?”.
Quando o escândalo das “rachadinhas” veio à tona, Bolsonaro, ao tentar explicar o inexplicável, disse que R$ 24 mil depositados na conta de Michelle era parte de um empréstimo no valor de R$ 40 mil feito a Fabrício Queiroz. E o presidente não esclareceu se declarou o tal empréstimo no Imposto de Renda.
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O presidente da República afirmou ao apresentador da Band que Fabrício Queiroz está sendo “injustiçado”. “Ele está sendo investigado e tem que dar a devida pena se for culpado, e não prender esposa. Quebrar o sigilo de mais de 90 pessoas, não tem cabimento isso”, declarou Bolsonaro.
Inconformado com o cerco que se fecha cada vez mais no entorno do próprio governo e dos filhos, Jair Bolsonaro reclamou da pressão exercida pelos veículos de comunicação, ignorando que o papel da imprensa é vigiar políticos e denunciar crimes eventuais por eles cometidos. “A pressão em cima do meu filho é para me atingir. E não é só em cima do meu filho, é em cima da esposa, de ex-mulher, outros filhos, amigos”, disse.
Bolsonaro pode tentar se fazer de vítima, mas o fato de ter admitido que participou de um esquema criminoso é algo extremamente grave e coloca o filho, Flávio Bolsonaro, em situação ainda mais difícil. Isso porque se Queiroz não comprovar a origem dos R$ 89 mil depositados na conta de Michelle Bolsonaro, ficará patente que o esquema das “rachadinhas” também abasteceu o caixa 2 do atual presidente da República.
Além disso, a falta de concatenação de ideias faz de Bolsonaro uma presa fácil das próprias declarações. Não há problema algum no fato de Fabrício Queiroz ter atuado como “faz tudo” do clã Bolsonaro ao longo de muitos anos, mas o depósito na conta da primeira-dama e a confissão do presidente de ser ele o destinatário do montante não deixam dúvidas a respeito do envolvimento de todos no esquema criminoso.
Ademais, se Queiroz pagava as contas de Bolsonaro, o depósito bancário em questão permite concluir que ou o ex-assessor parlamentar devolveu parte do dinheiro que lhe foi entregue para quitar despesas, o que exige comprovação de origem, ou o presidente precisa ser investigado por participação nas “rachadinhas”.
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