Incomodado com escolha de ministro e os rumos da pandemia, Centrão ameaça Jair Bolsonaro

 
Se a política brasileira tem alguma semelhança com o reino animal, o Centrão desempenha o papel das aves de rapina, sempre em busca de uma presa fácil. Essa é a situação do presidente Jair Bolsonaro em relação ao bloco parlamentar que faz do escambo contínuo a razão primeira de sua existência.

Quando a crise sanitária decorrente da pandemia do novo coronavírus alcançou patamares assustadores, provocando inimaginável tragédia humanitária no País, o Centrão não perdeu tempo e pediu a cabeça do general da ativa Eduardo Pazuello, que deixou a pasta investigado à sombra da incompetência e com um discurso melancólico que não condiz com a realidade dos fatos.

Incialmente, a ideia do Centrão era emplacar o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR) como substituto de Pazuello, com a justificativa de que o parlamentar paranaense já ocupou o posto no governo do então presidente Michel Temer.

Diante da resistência do staff palaciano ao nome de Barros, que atualmente é líder do governo na Câmara dos Deputados, o Centrão apressou-se em apadrinhar o nome da cardiologista Ludhmila Hajjar, que por “divergências técnicas” recusou o convite feito por Bolsonaro.

Um dos principais padrinhos de Ludhmila foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), eleito com o apoio de Bolsonaro e que no final de semana foi ao Palácio da Alvorada para cobrar a demissão de Pazuello.

Com o tratamento criminoso dispensado à médica pela milícia bolsonarista, que oscilou entre sórdidos ataques nas redes sociais e ameaças de morte, o Centrão sinalizou descontentamento com o desfecho do caso.

Jair Bolsonaro ainda não tinha anunciado Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, quando integrantes do Centrão ameaçaram o presidente dizendo se tratar da última chance para acertar no combate à pandemia de Covid-19, que teve condução desastrosa até agora.

 
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“Bolsonaro quis escolher um nome sozinho. Não tem problema. Mas terá que acertar na seleção do seu quarto ministro da Saúde porque, caso seja necessário fazer uma nova troca, o País não vai parar para discutir quem será o quinto, mas sim o próximo presidente da República. Na versão de um deputado, ninguém mais ficará brincando de escolher ministro”, disse um graduado integrante do Centrão.

O tratamento dispensado à médica Ludhmila Hajjar foi considerado inaceitável por muitos políticos e autoridades, inclusive do STF, onde a cardiologista goza de prestígio. A não indicação de Ludhmila para o Ministério da Saúde soou como desprestígio para o Centrão, que costuma ser implacável ao cobrar faturas. Isso significa que não se deve descartar a instalação da CPI da Covid.

Vice-presidente da Câmara, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) escreveu em sua conta no Twitter que “a situação do país não permite que o ministro da Saúde tenha tempo para aprender a ser ministro. As respostas terão que ser rápidas e efetivas”.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Ramos foi incisivo ao mandar um recado ao governo e principalmente ao novo ministro da Saúde: “Não teremos paciência com ele (Queiroga). É acertar ou acertar”.

O Centrão encara a atividade política como negócio, a léguas de distância da seara do diletantismo, por isso Bolsonaro deve ficar atento, pois a qualquer momento um pedido de impeachment poderá sair da gaveta do presidente da Câmara dos Deputados. As falas de Arthur Lira e de Marcelo Ramos se completam não apenas em conteúdo, mas no tocante ao objetivo, já que ambos são alinhados em termos políticos.

É importante ressaltar que por ocasião do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o Centrão também apoiava a petista, mas sua queda só foi possível não pelo crime de responsabilidade decorrente das “pedaladas fiscais”, mas pelo ambiente político da época. E o Centrão foi decisivo na derrocada de Dilma, mesmo tendo avançado com fúria sobre os cofres da Petrobras.

Em relação a Jair Bolsonaro, há inúmeros crimes de responsabilidade que justificam a abertura de um processo de impeachment. Por enquanto não há ambiente político para isso, mas se o Centrão levantar com o pé esquerdo, como diz a sabedoria popular, a direita radical irá pelos ares junto com o presidente da República.


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