Ricardo Barros tenta exalar bom-mocismo na CPI da Covid e sessão é encerrada após mentiras e bate-boca

 
Quem acompanha com proximidade a política nacional não esperava outro comportamento do deputado federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, que não o protagonizado pelo parlamentar em seu depoimento à CPI da Covid, no Senado Federal.

Barros, que insistiu para depor e tentou antecipar sua participação na CPI, atacou os senadores ao dizer que a comissão atrapalha os processos de compra de vacina contra Covid-19. “O mundo inteiro quer comprar vacina, e espero que essa CPI traga bons resultados ao Brasil. Porque o negativo já produziu muito: afastou empresas interessadas em vender vacina ao Brasil”, disse o parlamentar.

Ricardo Barros acabou na CPI da Covid por força dos depoimentos do deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF) e do seu irmão Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde. Após os irmãos Miranda informarem ao presidente da República sobre possíveis casos de corrupção na aquisição da vacina Covaxin, Bolsonaro mencionou, segundo os depoentes, o nome do líder do governo como responsável pelo “rolo”.

Acusações de Luís Miranda

Em depoimento à CPI, o deputado Luís Miranda, ao responder pergunta da senadora Simone Tebet (MDB-MS), declarou: “A senhora sabe que se eu fizer isso… Eu vou ser perseguido. Vocês sabem que é o Ricardo Barros que o senhor presidente falou”.

No início da sessão da CPI de 25 de junho passado, Luís Miranda tentou mostrar aos senadores que não se recordava do nome citado pelo presidente da República como responsável pelo escândalo no caso da Covaxin.

Cobrado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), Miranda recobrou a memória e disparou: “O que eu percebi, sem querer proteger, o presidente demonstrou atenção ao que estávamos falando. Ele cita para mim assim: ‘você sabe quem é, né? Que ali é foda, se eu mexo nisso aí, já viu a merda que vai dar. Isso é fulano, vocês sabem que é fulano’”.

 
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Voltando a Ricardo Barros… No depoimento desta quinta-feira, o líder do governo disse que não foi acusado por Bolsonaro de envolvimento no escândalo Covaxin. Nesse caso, o que se tem é a palavra dos irmãos Miranda contra a do presidente da República, que até o momento não veio a público para desmenti-los. Ou seja, Bolsonaro não saiu em defesa de Ricardo Barros.

Além disso, ninguém do governo se pronunciou sobre a gravíssima acusação feita por Luís Miranda, que em depoimento à Polícia Federal relatou conversa com o então ministro Eduardo Pazuello (Saúde).

“Eu disse: “Pazuello, tá tendo sacanagem no teu ministério. Tem que agir, mermão”. Aí ele falou: “Sacanagem tem desde que eu entrei”. Com aquele jeitão carioca dele. “Inclusive, ontem, eu (Miranda) fui no presidente e entreguei um negócio pra ele. É um absurdo. Se estiver acontecendo de verdade, é um absurdo você (Pazuello) precisa cuidar disso”.

Miranda prosseguiu no depoimento relatando o que o então ministro teria respondido: “O Pazuello olha pra mim e diz assim: Deputado, posso falar a verdade? Eu passei seis horas andando de helicóptero com ele (Bolsonaro) e consegui dez minutos de atenção dele. Eu não consigo. Eu tenho coisas pra resolver com ele e, porra, no final do ano eu levei uma pressão tão grande que eu não sei exatamente como resolver. Uma pressão… um cara”.

O deputado federal revelou aos investigadores o que teria ouvido de Pazuello sobre Arthur Lira: “(E eu perguntei) Que cara? O Arthur Lira, porra. O Arthur Lira colocou o dedo na minha cara e disse: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’, porque eu não quis liberar a grana pra listinha que ele me deu dos municípios que ele queria que recebesse. Ele bota o dedo na minha cara”.

Ousado e petulante, além de habilidoso em termos político, Ricardo Barros, assim como qualquer cidadão, tem direito à presunção de inocência e à ampla defesa, mas sua trajetória dispensa maiores apresentações. A afirmação de que a CPI da Covid fez mal à sua imagem é no mínimo uma ode ao deboche. Basta dar alguns passos atrás na linha do tempo e estacionar no ponto em que Barros comandava o Ministério da Saúde, no governo Temer.

Na ocasião, o UCHO.INFO noticiou com exclusividade o escândalo envolvendo a compra de do medicamento L-asparaginase, usado no tratamento de Leucemia Linfoblástica Aguda. Nossas matérias, que antecederam com folga reportagem do programa Fantástico (TV Globo), causaram enorme reboliço na pasta, obrigando os envolvidos a discutirem a repercussão do escândalo, com direito a ataques sórdidos ao editor deste portal, que foi ameaçado por um dos protagonistas do esquema.

Confira abaixo as matérias do UCHO.INFO sobre o escândalo da L-asparaginase

. Escândalo envolvendo a compra de medicamento contra um tipo de câncer deve chacoalhar o governo (18/01/2017)
. Leucemia Aguda: Fantástico exibe como furo de reportagem matéria do UCHO.INFO publicada em janeiro (27/03/2017)
. Leucemia Aguda: editor do UCHO.INFO foi ameaçado após denunciar escândalo no Ministério da Saúde (27/03/2017)
. Leucemia Aguda: denúncia do UCHO.INFO incomodou a Saúde e terá investigação policial e possível CPI (28/03/2017)
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. Leucemia Aguda: Temer deveria criar coragem e ordenar compra de medicamento confiável e eficaz (04/05/2017)
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