Mudança na direção da Petrobras tende a ser “mais do mesmo” e criará armadilha para os desavisados

 
A troca de comando na Petrobras e a “carta branca” do governo para substituir toda a diretoria da empresa é mais uma manobra eleitoreira do presidente Jair Bolsonaro, que tem no fracasso da política econômica do governo seu mais feroz adversário.

Depois que o agora ministro Adolfo Sachsida substituiu Bento Albuquerque no Ministério de Minas e Energia, cresceram os rumores de novas mudanças na direção da Petrobras. A demissão de José Mauro Ferreira Coelho, anunciada pela pasta na noite de segunda-feira (23), derrubou as ações da companhia nesta terça e não é garantia de que os preços dos combustíveis serão reduzidos. Além disso, a ingerência do governo compromete os projetos de médio e longo prazos da companhia.

Indicado pelo governo para presidir a petrolífera brasileira, Caio Mário Paes de Andrade, secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, dependerá do aval da diretoria da Petrobras para mudar a política de preços. Qualquer interferência do governo fere o estatuto da companhia e a Lei das Estatais. Somente um irresponsável será capaz de aceitar indicação para o corpo diretivo da empresa e colocar em risco o nome e o próprio currículo para fazer as vontades de Bolsonaro.

Diante desse cenário que restringe as pretensões absurdas de Bolsonaro, o plano entabulado pelo governo busca estabelecer intervalo de 100 dias para que cada reajuste de preços ocorra. O período sugerido pelo governo coincide com o desejo do presidente da República de ter os preços dos combustíveis congelados até outubro, quando ele tentará a reeleição.

 
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Faz-se necessário lembrar que o congelamento de preços dos combustíveis já acontece em intervalo de 70 dias, ou seja, Bolsonaro quer mais 30 dias para novamente ludibriar a opinião pública e fazer a alegria da sua horda de apoiadores.

Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Lula aproveitou o imbróglio para afirmar que falta coragem a Bolsonaro para mudar a política de preços da Petrobras, que na opinião do petista não pode estar atrelada ao dólar. Lula é um oportunista que, como a extensa maioria dos políticos, não se avexa em mentir para agradar aos eleitores. A proposta do ex-presidente só seria possível se a política econômica fosse minimamente eficaz e o Real uma moeda forte a ponto de fazer sombra para o dólar. Não é o caso! Mesmo assim, seria um atentado contra os direitos dos demais acionistas, que detêm mais de 60% das ações da empresa

Como afirmamos em matéria anterior, o que Bolsonaro está disposto a fazer em relação à Petrobras é armar uma bomba de efeito retardado que explodirá logo depois das eleições, sendo que os estragos recairão sobre a população. Isso significa que os preços dos combustíveis serão majorados depois de outubro, assim como a inflação aumentará com mais ímpeto.

O Brasil já experimentou essa estratégia errática por decisão da então presidente Dilma Rousseff, que congelou os preços dos combustíveis para impedir a disparada da inflação e o derretimento do seu governo. O resultado todos conhecem.