Ampliação do Brics é revés para os direitos humanos, meio ambiente e relações internacionais

 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajou à África do Sul, onde participou da 15ª Cúpula dos Brics, acreditando que conseguiria chamar para si um pouco do protagonismo do encontro. Diferentemente do que imaginou o petista, a reunião de líderes terminou com resultado preocupante.

A decisão dos líderes das nações integrantes do bloco de aceitar novos países no grupo é um equívoco em termos políticos, ambientais, comerciais e de direitos humanos. Lula resistia à ideia, mas acabou convencido de que a entrada de países como Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes Unidos ajudará a resolver a insolvência do New Development Bank (NDB) – Novo Banco de Desenvolvimento, em português. A expectativa é que os três países acima citados façam aportes financeiros vultosos no NDB, instituição presidida pela petista Dilma Vana Rousseff.

Outros países convidados para integrar os Brics são Argentina, Egito e Etiópia. O ingresso da Argentina pode dar um fôlego ao presidente Lula, que não ficará sozinho na responsabilidade de conviver com um vizinho que enfrenta grave crise econômica, com inflação anual acima dos 110%.

No âmbito político, a nova configuração dos Brics poderá ser considerada uma afronta ao Ocidente, algo que interessa principalmente à China e à Rússia, cujo presidente, Vladmir Putin, participou de forma remota do encontro para evitar ser preso, já que o Tribunal Penal Internacional expediu mandado de prisão contra o ocupante do Kremlin por crimes de guerra na Ucrânia.

É preciso reconhecer que o NDB precisa de injeção de recursos, mas para o Brasil o novo desenho dos Brics poderá atrapalhar as negociações com a União Europeia, por exemplo, em ao menos duas frentes distintas. A primeira é na seara da política internacional, uma vez que o Ocidente, por meio da Otan, está se contrapondo a Moscou, que à força tenta reeditar a antiga União Soviética com a incorporação de territórios de outras nações. Lula insistiu que o bloco tem o dever de discutir a guerra na Ucrânia, mas acabou sendo alvo da reação de Putin.

 
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No terreno das relações comerciais, o Brasil poderá ter problemas com a União Europeia, que continua postergando a homologação do acordo com o Mercosul alegando questões relacionadas ao clima e à preservação da floresta amazônica. Esse entrave passa de maneira obrigatória pelo Acordo de Paris, que estabeleceu metas para frear a elevação da temperatura do planeta. Tal desafio foca na utilização de energia limpa, ou seja, o abandono paulatino do uso de combustíveis fosseis.

Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes Unidos têm suas economias centradas nas enormes reservas de petróleo, o que representa um contrassenso em questões ambientais, pelo menos em relação ao Bricks. Sem os petrodólares das citadas nações, o NDB continuará enfrentando problemas, já que em razão da pandemia de Covid-19 a instituição deixou de receber muitos dos empréstimos concedidos. Em suma, cenário que remete ao dito popular “se ficar o bico come, se correr o bicho pega”.

No terreno dos direitos humanos, a situação do Brics, que não era das melhores por causa de China e Rússia, tende a piorar sobremaneira. Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, redutos de regimes ditatoriais, ignoram a questão dos direitos humanos.

No caso de ser confirmada o ingresso das seis nações convidadas para ingressarem no bloco, os países adeptos do autoritarismo serão maioria: Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Rússia. Em suma, será ineficaz qualquer tentativa de discutir temas relacionados aos direitos humanos.

Para concluir, o presidente Lula também acabou concordando com a expansão do Brics na esperança de o Brasil conseguir assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Em um conselho que depende da unanimidade de votos para aprovar resoluções importantes e urgentes, China e Rússia sempre votarão contra.


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