Mourão tenta ressurgir das cinzas golpistas com discurso marcado por falso bom-mocismo e hipocrisia

 
Como sempre afirmamos, incoerência e desfaçatez são ingredientes em abundância no almoxarifado da política brasileira. Senador pelo Rio Grande do Sul, Hamilton Mourão se calou enquanto um golpe de Estado era gestado por Jair Bolsonaro e outros generais. À época, Mourão era vice-presidente da República e tinha conhecimento do que acontecia no Palácio do Planalto, mesmo que a relação com Bolsonaro não fosse das melhores.

Em 8 de fevereiro, após a deflagração da Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, que tem na mira os envolvidos na trama golpista, Hamilton Mourão ocupou a tribuna do plenário do Senado para que a Justiça Militar reagisse à investida policial. Na ocasião, o senador classificou a operação da PF como “condução arbitrária de processos ilegais”.

“No caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem seus integrantes ao largo da Justiça Militar. Existem oficiais da ativa sendo atingidos por supostos delitos, inclusive oficiais generais. Não há o que justifique a omissão da Justiça Militar”, declarou Mourão.

Na sequência do discurso golpista, Mourão afirmou à imprensa que defende que a investigação contra militares “que eventualmente podem ter cometido crimes” tramite na Justiça Militar. O caso está sob responsabilidade do STF.

Planejar um golpe de Estado é crime comum, não militar, por essa razão as investigações estão sob a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF), que para a sorte da nação impediu que a democracia fosse mandada pelos ares.

Ciente de que defender Jair Bolsonaro e seus generais golpistas é suicídio político, Mourão agora ressurge em cena carregando a tiracolo um bom-mocismo fajuto e nada convincente. Em entrevista concedida do portal UOL, na segunda-feira (11), Hamilton Mourão citou o “fim melancólico do governo” e afirmou “tínhamos de reconhecer a derrota”.

“Acho que o governo teve coisas muito boas e, no final, teve esse fim que considero melancólico. Não fiquei satisfeito com o final do nosso governo”, declarou. “Tínhamos que ter reconhecido a derrota. Perdemos por pouco, mas perdemos. Tinha que ter dado uma resposta clara: perdemos agora, mas vamos melhorar para voltar mais forte em 2026. Acho que isso é do jogo democrático”, concluiu.


 
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Fazer mea culpa a essa altura dos acontecimentos é oportunismo político da pior espécie. É importante lembrar ao senador que o governo Bolsonaro, do qual ele fez parte como vice, foi melancólico desde o início. É impossível exaltar acertos de um governo negacionista que mandou mais de 700 mil brasileiros aos cemitérios. Além disso, a essência golpista do governo prevaleceu o tempo todo, a reboque do discurso falacioso “dentro das quatro linhas da Constituição”.

Com o avanço das investigações da Tempus Veritatis e a revelação de provas incontestáveis sobre a tentativa de golpe, Mourão tenta passar aos brasileiros incautos a imagem de alguém que defende a democracia e respeita a legislação vigente. Fosse verdade, o senador não teria defendido uma reação da Justiça Militar apenas porque colegas de caserna participaram da trama golpista.

A hipocrisia de Mourão galgou degraus quando ele aceitou ser membro da Comissão de Defesa da Democracia do Senado, depois de ter participado de um governo que flertou com o golpe de Estado durante quatro anos, projeto criminoso que fracassou no momento da execução.

Hamilton Mourão é relator do projeto de lei de autoria do senador bolsonarista Cleitinho (MG) que criminaliza “a confecção, distribuição, comercialização e uso da Bandeira Nacional com cores e formas alteradas e associações a símbolos de partido político, grupos e movimentos sociais.”

Na opinião de Mourão, o projeto “contribui para a manutenção do respeito às leis e aos Símbolos Nacionais, expressão fundamental do espírito cívico e republicano”. O melhor que o senador pode fazer no momento é reler a Constituição de 1988 (artigo 5º, parágrafo IV), que estabelece: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. O Congresso Nacional já viveu dias melhores!


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