Em períodos eleitorais, os candidatos ludibriam os eleitores com a falsa promessa de defender os interesses da população. Eleitos, esquecem as promessas e passam a defender os próprios interesses e das legendas aos quais são filiados.
A Câmara dos Deputados, por exemplo, que deveria fazer jus ao título de “Casa do povo”, não passa de balcão de negócios e usina de propostas para inviabilizar o governo. Isso se deve ao fato de que os parlamentares sempre estão de olho nas eleições futuras.
Guindada ao posto de presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), a deputada bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC) colocou em votação um projeto de lei que cria o “Dia Nacional da Lembrança do Holocausto”. O texto foi pautado à sombra da crise diplomática entre Brasil e Israel.
O movimento da presidente da CCJ decorre da interpretação de conveniência no âmbito da declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o genocídio praticado por Israel na Faixa de Gaza, onde mais de 30 mil palestinos foram mortos – a maioria crianças, mulheres e idosos – e quase 2 milhões correm o risco de morte por inanição.
Apresentado em 2017 pelos então deputados Jorge Silva (PHS-ES) e Sergio Vidigal (PDT-ES), o projeto estabelece que o “Dia Nacional da Lembrança do Holocausto” seja instituído em 16 de abril – data que marca da vitória dos soviéticos sobre a Alemanha nazista e a queda do regime de Adolf Hitler.
O referido projeto chegou à CCJ em 2019 e já teve três relatores e, portanto, três pareceres distintos. Se aprovado na CCJ, o projeto seguirá para o Senado. Caso referendado pelos senadores, o passo seguinte será a sanção do presidente da República.
O projeto em questão é mais um instrumento político que a oposição, liderada pelo bolsonarismo, tenta criar para constranger o presidente Lula, que em nenhum momento da entrevista, em Adis Abeba, comparou o extermínio dos palestinos ao Holocausto.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus”, declarou Lula na capital etíope, em fevereiro.
Como destacamos em matéria publicada anteriormente, o que acontece em Gaza é genocídio, o que aconteceu na Alemanha nazista foi genocídio. Não importa a quantidade de vítimas de regimes facinorosos, pois genocídio é “extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso”. Isso aconteceu na Alemanha de Adolf Hitler, isso acontece no enclave controlado pelo grupo extremista Hamas.
O oportunismo a que recorre a presidente da CCJ é nauseante, pois um projeto que ficou parado por cinco anos é ressuscitado às pressas para que a oposição consiga destilar, mais uma vez, sua conhecida torpeza.
Bolsonarismo e o Holocausto
Caroline de Toni deveria deixar de lado os malfadados minutos de fama e procurar o que pensam alguns bolsonaristas a respeito do Holocausto. Seu líder maior, o golpista Jair Bolsonaro, disse, em abril de 2019, durante encontro com evangélicos, que o Holocausto deveria ser perdoado, mas não esquecido.
“Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer. E é minha essa frase: Quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro. Se não queremos repetir a história que não foi boa, vamos evitar com ações e atos para que ela não se repita daquela forma”, afirmou Bolsonaro.
Em setembro de 2023, o senador Flávio Bolsonaro disse, durante sessão da CPI do 8 de janeiro, que as prisões de envolvidos nos ataques golpistas contra os Três Poderes lembravam as detenções de judeus pelos nazistas.
“A gente via pessoas com medo, querendo fugir do nazismo e sendo direcionadas para dentro de estações de trem de uma forma pacífica. Enquanto estavam nas estações de trem, eram ligadas as câmaras de gás, e as pessoas morriam aos milhares, muito parecido com o que aconteceu aqui nas prisões dos dias 8 e 9 de janeiro: ‘Entra aqui nesse ônibus, vamos te colocar na rodoviária para você voltar para a sua casa’. E o destino foi o presídio”, disse Flávio Bolsonaro na ocasião.
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Em 22 de outubro de 2022, o então candidato a deputado federal Nikolas Ferreira, uma das vedetes do bolsonarismo, defendeu a liberdade de expressão e citou como exemplo a negação ao Holocausto permitida na legislação dos Estados Unidos. A fala de Ferreira foi criticada pelo Museu do Holocausto, que se manifestou para apontar “os equívocos e a gravidade” de seu discurso.
Nikolas Ferreira afirmou em entrevista a um podcast que “existem judeus que não são contrários a uma tese de um estudioso que colocou como se o holocausto fosse mentiroso”, e que “a própria comunidade judaica deu a liberdade a esse cara (o linguista americano Noam Chomsky) falar isso”, argumentando que, deixando a tese circular, “as pessoas consigam analisar que aquilo dali é um absurdo”. A mesma lógica seria a aplicada na permissão para a existência de um partido nazista nos Estados Unidos.
Bolsonarista de primeira hora e integrante do grupo de negacionistas da vacina contra Covid-19, a médica oncologista Nise Yamaguchi foi afastada do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após comparar o medo provocado pela pandemia ao sentimento das vítimas do Holocausto.
Em entrevista à TV Brasil, em 5 de julho de 2020, a médica afirmou: “O medo é prejudicial para tudo (…). Te paralisa, te deixa massa de manobra. Você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações, tirando deles todas as iniciativas? Quando você tem medo fica submisso a situações terríveis”.
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