Vale tudo – Há dias, o editor do ucho.info conversava com um competente profissional de comunicação, atualmente contratado da Rede Globo, e expôs sua indignação com a forma como a emissora carioca, assim como todas as outras, explora as tragédias e, desrespeitando a dor dos familiares, faz da morte um espetáculo midiático. Coerente e com larga experiência no jornalismo, o interlocutor ouviu atentamente a explanação e não precisou de qualquer esforço para externar sua concordância. Coerente, disse que também considera abusiva a maneira como o departamento de jornalismo da emissora da família Marinho trata esse assunto.
O sensacionalismo que toma conta dos veículos de comunicação ultrapassa qualquer regra de ética profissional e o mais simples significado de humanidade, mas faz crescer o irresponsável massacre que as emissoras de televisão patrocinam a partir de acidentes, tragédias e outros fatos terríveis em que pessoas são vítimas. Não é dessa forma ultrajante que se faz jornalismo e leva-se informação à sociedade. É preciso bom senso no momento de um acidente, de uma tragédia, enfim, da dor.
Aos dirigentes desses veículos midiáticos o que importa é a audiência, que ao final da história se traduz em dinheiro no caixa. A bizarrice que emoldura o jornalismo brasileiro é tamanha, que durante o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro, no domingo (10), um integrante de determinada agremiação passou mal e teve de ser levado ao posto médico do sambódromo carioca, onde foi medicado por causa de súbita queda de pressão, mas a Rede Globo insistiu em entrevistá-lo, como se tal fato tivesse relevância jornalística.
A repórter global atendeu a um chamado da central de transmissão do Carnaval e logo afirmou, ao vivo, que o integrante da escola de samba ainda não tinha se recuperado, mas que mesmo assim pediu a ele para retornar ao sambódromo e conceder uma entrevista. O ucho.info deixa aqui uma pergunta que a própria Rede Globo poderá responder. Quem foi mais irresponsável nesse caso: a repórter ou o médico que liberou o paciente? Que a Globo tem o péssimo hábito de fazer da informação um reino em que atua com despotismo todos sabem, mas dar ordens dentro de um ambulatório é demais.
Essa forma desumana e oportunista de fazer jornalismo está se transformando em algo covarde e perigoso. A sociedade precisa urgentemente condenar esse comportamento desleal, sob pena de a vida nada mais valer diante de uma câmera.