Polêmico comentarista, Jabor prova que continua bom como diretor de longa metragem

(*) Carlo Iberê, do CineLux

Mesmo eventualmente os que discordam das opiniões do jornalista Arnaldo Jabor têm boas chances de gostar do seu retorno às telas com “A Suprema Felicidade”, já nas locadoras. Jabor parte de um tema batido, a eterna busca da felicidade, e suas frustrações naturalmente, para mostrar tudo o que sabe sobre como cinematografar uma história. No caso, escrita e dirigida pelo próprio.

O filme tem ótima trilha sonora – para quem gosta de samba cadenciado, anterior ao compasso acelerado imposto pela Marques de Sapucai -, com uma verdadeira orquestra aos cuidados de Cristovão Bastos.

Uma sequência digna de musical acontece quando jovens começam a batucar um sambinha no teto da carrocinha do pipoqueiro Bené, ponto de encontro do bairro, cortando para a evolução de uma batucada de rua, acompanhada de um contagiante balé.

Apesar do uso quase excessivo do “chroma key”, recurso que permite combinar imagens de diferentes locais, a fotografia de Lauro Escorel destaca-se. Particularmente para quem acha o Rio de Janeiro e seus becos realmente uma cidade maravilhosa.

Quem a conhece bem vai curtir descobrir os diversos locais das locações. Vale a pena desculpar que as imagens da Praia de Botafogo e do Aterro do Flamengo tenham a iluminação atual, mesmo que o filme termine no início dos anos 60.

Outro destaque, e ai grande, para a interpretação de Marco Nanini, como o Avô Noel, músico da noite boemia e prostíbula da Lapa. Embora não pareça, pois a linha condutória do filme seria a vida do seu neto, Paulo, dos quatro aos pouco mais de 16 anos, seu personagem acaba sendo o principal.

É acrescentando personagens marcantes à vida de Paulo que Jabor dá ritmo e sabor à história. Ao mesmo tempo em que homenageia grandes atores e atrizes. Impagáveis por exemplo, apesar de pequenas, as participações de Ary Fontoura e Jorge Loredo, como padres dando aulas de educação sexual.

16 anos sem filmar, pois segundo ele mesmo o cinema nacional havia acabado em 1990, Jabor, com personagens que parecem ter saído das páginas de Nelson Rodrigues, volta em boa forma.