Conselho da Petrobras impõe derrota a Bolsonaro ao barrar troca imediata no comando da empresa

 
O autoritário projeto do presidente Jair Bolsonaro de reduzir os preços dos combustíveis deu errado, pelo menos por enquanto. O Conselho de Administração da Petrobras, por maioria, decidiu barrar a troca do presidente da companhia, como deseja o chefe do Executivo federal.

Irritado com atual presidente da empresa, José Mauro Ferreira Coelho, por causa de esperado aumento do preço do diesel, Bolsonaro decidiu demiti-lo, indicando para o cargo Caio Mário Paes de Andrade, na esperança de conter novos reajustes nos combustíveis e evitar mais estragos no seu projeto de reeleição.

De acordo com o Conselho de Administração da petrolífera, o nome de Paes de Andrade, que é integrante da equipe econômica do governo, terá de ser submetido ao processo de governança da Petrobras, o que demanda tempo.

Em decisão que dificulta ainda mais as pretensões de Bolsonaro, os conselheiros da Petrobras cobraram do governo o envio dos demais nomes que passarão a integrar o Conselho. Somente após essa etapa o Conselho se reunirá novamente, desta vez para a convocação de Assembleia Geral para deliberar sobre as mudanças.

De acordo com as regras de mercado e o estatuto interno da empresa, entre a convocação e a realização da Assembleia Geral é obrigatório um intervalo de no mínimo 30 dias. Isso significa que Paes de Andrade, se aprovado pelo Conselho, só assumiria a presidência da Petrobras, na melhor das hipóteses, na primeira quinzena de julho.

 
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Entre tomar posse no cargo e decidir com o Conselho de Administração eventuais mudanças na política de preços da empresa, Paes de Andrade teria de aguardar mais alguns dias e torcer para que os conselheiros concordarem com a proposta de Bolsonaro. Sendo otimista, em agosto, ou seja, a dois meses do primeiro turno das eleições.

Considerando que a Petrobras trabalha com elevados estoques, qualquer mudança nos preços dos combustíveis não aconteceria a tempo de beneficiar o chefe do Executivo em seu projeto de reeleição. Em reunião com líderes governistas, no Palácio do Planalto, Bolsonaro defendeu uma redução nos preços dos combustíveis e, ciente dos estragos, disse ‘depois a gente vê como faz”. Isso porque a reeleição é no momento sua principal preocupação.

O presidente da República pode espernear o quanto quiser, mas, de acordo com dados de abril passado, o governo detém 50,30% das ações da Petrobras com direito a voto. Quando consideradas todas as ações da empresa, o governo tem 28,7% de participação acionária. O BNDES e o BNDESpar juntos têm 7,9%. Isso significa que 63,40% das ações da Petrobras estão nas mãos de investidores privados (nacionais e estrangeiros), que devem ter seus direitos respeitados. Isso demonstra que falar em privatização a empresa é o que se conhece como “chover no molhado”.