Bolsonaro indica como líder do governo envolvido no escândalo do remédio contra Leucemia Linfoblástica

 
“Mais do mesmo”. Eis a expressão que melhor define Jair Bolsonaro e que desde a campanha presidencial de 2018, quando o atual presidente ainda era candidato ao Palácio do Planalto, vem sendo usada pelo UCHO.INFO como referência a quem foi eleito na esteira de um falso discurso em defesa da ética na política e do combate à corrupção.

Ciente de que a qualquer momento poderia ser alvo de um processo de impeachment, Bolsonaro mandou o discurso e as promessas de campanha pelos ares e aliou-se ao Centrão, bloco parlamentar que atua principalmente na Câmara dos Deputados e vive debruçado sobre o balcão do escambo.

Quem conhece os meandros da política nacional sabe que apoio no Congresso Nacional, a depender de quem procura e do tamanho problema, custa muito caro – leia-se cargos e nomeações à vontade na estrutura federal.

Depois de rápido loteamento da máquina federal para abrigar os apaniguados dos integrantes do Centrão, sem contar os que já estavam devidamente acomodados, Bolsonaro decidiu substituir o líder do governo na câmara dos Deputados. Com a decisão, sai o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO) e entra o também deputado e ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, um dos caciques do Centrão.

Para quem, no início do governo, condenou com contundência o que chamou de “velha política”, Bolsonaro mostra ao País que, além de não honrar as próprias palavras, rasga as promessas de campanha com impressionante facilidade. Mas isso não é novidade para os leitores do UCHO.INFO, que sempre alertou para o perigo que representava o mentiroso e visguento discurso de Bolsonaro.

De suposto reduto da moralidade pública a reunião de protagonistas de escândalos dos mais variados, o governo de Jair Bolsonaro é uma ode ao deboche, que com a indicação de Ricardo Barros como líder na Câmara coloca uma “cereja no bolo”.

Imbróglios do novo líder do governo

Deputado federal pelo Paraná e filiado ao Progressistas, legenda que mais forneceu à Justiça envolvidos no escândalo do Petrolão, Ricardo Barros está longe de ser a reedição tropical de um monge tibetano. Em março de 2019, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) em Maringá, no norte paranaense, ingressou com ação por improbidade administrativa contra Barros e Leopoldo Fiéviski, ex-secretário de Saneamento do município.

A ação foi proposta quase oito anos após o início das investigações sobre a suposta interferência de Ricardo Barros em licitação de R$ 7,5 milhões para a contratação de uma agência de publicidade pela prefeitura.

 
Em ligação telefônica interceptada pelos promotores, em outubro de 2011, o deputado, segundo o MP-PR, orienta Leopoldo, então chefe de gabinete do prefeito Silvio Barros (irmão de Ricardo) para que interfira no resultado da licitação.

No diálogo, Ricardo Barros diz a Leopoldo: “era pra ser filha única”, “não gosto de amador”, “eu queria que você promovesse uma conversa dos dois [concorrentes]” e “aí quem sabe fazemos uma solução salomônica aí”.

A orientação de Ricardo Barros tinha o intuito de direcionar a licitação em favor da Meta Publicidade, de Maringá, contra a Trade Comunicação, de Curitiba. Ao final da concorrência, a Meta, que desde 2005 tinha contrato com a prefeitura e já havia prestado serviço a campanhas eleitorais de Silvio Barros, sagrou-se vencedora.

Mas essa não é a única polêmica no currículo de Ricardo Barros, que enquanto ministro da Saúde no governo Temer esteve na “linha de tiro” do escândalo envolvendo a compra de L-asparaginase, medicamento para tratamento de Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) – confira matérias abaixo.

De origem chinesa, o medicamento foi adquirido por intermédio de um laboratório paraguaio que não tem sede no Paraguai, mas funcionava em escritório de contabilidade da Grande São Paulo. O fármaco não tinha eficácia clínica comprovada, requisito básico para que seja ministrado em pacientes com a necessária segurança.

A denúncia coube ao UCHO.INFO, cujo editor foi alvo de ameaças por parte dos envolvidos no esquema de maledicências vociferadas por Ricardo Barros durante reunião emergencial no Ministério da Saúde.

Com o “casamento” de Bolsonaro com o Centrão, quem cometer a ousadia de, em nome do governo, falar em teto de gastos e combate à corrupção passará vergonha. Afinal, os apoiadores de Bolsonaro no Congresso são egressos do convento da esquina.

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