Bolsonaro comemora suspensão de testes da Coronavac, ciente de que voluntário cometeu suicídio

 
Quando, em outubro passado, o UCHO.INFO afirmou que o presidente Jair Bolsonaro politizaria a fabricação da Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, pelo Instituto Butantan, de São Paulo, como forma de atacar o governador João Dória Júnior, seu potencial adversário na eleição de 2022, muitos afirmaram que nossa informação era infundada.

Com a sequência de episódios grotescos envolvendo a pandemia do novo coronavírus e a busca por um imunizante contra a Covid-19, ficou claro que Bolsonaro, governante desprovido de escrúpulos, faria de tudo para inviabilizar a Coronavac. Afirmamos que para tanto o presidente usaria o Ministério da Saúde e a Agência nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para levar seu plano fascistoide adiante.

Nesta terça-feira (10), horas após a Anvisa suspender os testes clínicos da Coronavac em decorrência de evento adverso grave, Bolsonaro escreveu nas redes sociais que “ganhou de Dória”, como se a busca por uma vacina eficaz contra o novo coronavírus pudesse ser encarada como uma disputa rasteira e criminosa.

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la”, escreveu o presidente ao responder a um internauta que o questionou sobre a possível compra do imunizante chinês pelo governo federal, com direito ao link de uma notícia sobre a decisão da Anvisa.

“O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, completou Bolsonaro, aproveitando o episódio para destilar seu caráter repulsivo.

 
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Que Jair Bolsonaro chafurda no cocho da delinquência intelectual e é desprovido de competência para decidir o futuro da nação todos sabem, mas tratar a suspensão dos testes da Coronavac como vitória é desrespeitar o voluntário alvo do evento adverso e desprezar as dez mil pessoas que participam do ensaio clínico.

O governo paulista e o Instituto Butantan foram surpreendidos pela decisão, em especial porque o mencionado óbito não tem nexo causal com os testes clínicos da Coronavac. Ou seja, Bolsonaro continua fazendo da estrutura do governo uma ferramenta torpe para atacar adversários, algo típico de fascistas sempre dispostos a sufocar a verdade em nome dos próprios interesses.

A Anvisa foi notificada do evento adverso em 29 de outubro, analisou as informações relacionadas à intercorrência e decidiu pela não suspensão mas decidiu anunciar a suspensão dos testes dez dias depois, exatamente no dia em que o governador João Dória revelou que 120 mil doses da vacina chinesa chegariam ao País no próximo dia 20, como parte do lote de 6 milhões com previsão de entrega até dezembro. Além disso, Dória divulgou na segunda-feira (9) o avanço das obras de construção da nova unidade do Instituto Butantan destinada à produção da Coronavac no Brasil.

O uso político da Anvisa é temerário e não pode ser aceito com complacência pela parcela de bem da sociedade brasileira, já que o País caminha a passos largos na direção do retrocesso e do obscurantismo.

O Instituto Butantan e o governo paulista garantem que não há qualquer relação entre os testes da Coronavac e o evento adverso em um voluntário. Na verdade, o imunizado em questão é um homem, de 33 anos, que cometeu suicídio, como confirmou o Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo.

Ao ser desmoralizado mais uma vez, Jair Bolsonaro reforça a canalhice que domina diversos setores do governo que se submetem aos caprichos ideológicos de um governante irresponsável e autoritário. É preciso dar um basta ao presidente da República, antes que a democracia seja a próxima vítima.


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