Como afirmamos em matéria anterior, a mais recente fase da Operação Vigilância Aproximada, da Polícia Federal, que investiga o funcionamento da “Abin paralela” durante o governo do golpista Jair Bolsonaro, levou o ex-presidente, os alvos da ação policial e seus descontrolados apoiadores a adotarem o discurso da perseguição. Essa narrativa mambembe está ultrapassada e não surpreende, mas serve para modular o palavrório da militância.
Após a PF cumprir mandado de busca e apreensão, nesta segunda-feira (29), em endereços ligados ao vereador Carlos Bolsonaro, o ex-presidente, que estava pescando em Angra dos Reis com dois dos seus filhos, reagiu com o discurso debochado de sempre, alegando que a ação policial tem por objetivo “esculachar”.
A declaração foi dada à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. “Querem me esculachar, me fazer passar por constrangimento”, disse Bolsonaro.
O ex-mandatário disse que a intenção é encontrar algo que o envolva em algum crime, mas que isso “não vai acontecer”, já que ele não teria envolvimento com a “Abin paralela” citada na investigação. “Estão jogando rede, pescando em piscina. Não tem peixe”, afirmou.
Movido por monumental covardia, Bolsonaro jamais admitiria qualquer envolvimento com o criminoso esquema de arapongagem, colocado em prática com o uso da máquina estatal e de dinheiro público.
Apenas alguém desavisado é capaz de acreditar que o objetivo da PF é “esculachar”, depois de minuciosa investigação e coleta de provas.
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Reunião ministerial
Faz-se necessário relembrar que na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, realizada no Palácio do Planalto, Bolsonaro deixou claro o seu desejo de interferir na Polícia Federal para proteger sua família e amigos.
“Eu não vou esperar f… a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar!”, esbravejou o descontrolado Jair Bolsonaro. Na ocasião, o então presidente afirmou que obteria informações privilegiadas usando esquema paralelo de arapongagem.
Bolsonaro tem garantido pela Constituição o direito de não produzir provas contra si, por isso pode negar envolvimento com a “Abin paralela”, mas nesse caso é preciso responsabilizar o general aposentado Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), que tem a Agência Brasileira de Inteligência sob sua subordinação. Tal responsabilização é necessária porque a “Abin paralela” utilizou a estrutura estatal para espionar adversários políticos e autoridades.
Para quem, ao longo de quase intermináveis quatro anos, repetiu diversas vezes que “jogava dentro das quatro linhas da Constituição”, Bolsonaro é um falastrão que reforça a incompetência como político e a essência golpista, assuntos que desde a campanha presidencial de 2018 foram alvos de seguidos alertas do UCHO.INFO.
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